domingo, 22 de abril de 2012

Não te pertencia

- Juliano, para ali naquela esquina. - Assim ele o fez.
- Seu carro faz muito barulho. Já viu isso? Ele não é novo?
- É, acho que é a descarga que está solta. Vou ver isso amanhã. - Ele disse estacionando o carro.

Ficamos ali conversando um bom tempo. Nos mantinhamos parados e o assunto parecia não se esgotar. Aquela vaga parecia enorme perto daquele carro pequeno. Sem contar a pouca luz do lugar, que o deixava propício para deslizes. Recostei minha cabeça no apoio do banco e só ouvia Juliano falar. Fomos pegos por um silencio de um minuto, que mais parecia de meia hora.
Quando vi, Juliano vinha me engolir. Não que eu não tivesse reflexo o suficiente e olhos bons pra enxergar ele se aproximando de supetão. Mas algo em mim permitiu que nossos lábios se tocassem e que nossas línguas se enroscassem.
Talvez carência. Ou simples preguiça de reagir.

E foi...
Durou muitos minutos. Mas só alguns pra que eu me rendesse ao desejo de levar adiante aquele beijo.
Não porque era Juliano que estava me beijando, mas porque aquela boca não era a dele. Não, não era, não podia ser.
Minha cabeça dizia que não era. Na verdade ela não negava, ela pensava em outra pessoa.
Era a boca dessa que eu beijava. E por isso me permiti. E por isso me rendi.
Até, pelo menos, abrir os olhos e me deparar com a realidade da qual ainda não tinha me defrontado.

Foi como aquela chuva no momento errado. Como um balde de água fria, como dizem por aí.
Mas não me arrependo. Não... mesmo porque Juliano não tinha nada a ver com isso. Mesmo porque foi a primeira vez que isso aconteceu entre nós. Ele não sabia. Não podia saber.
Mas eu sabia, sempre soube e por algum tempo ainda vou continuar sabendo que beijar qualquer boca vai me fazer sentir seu gosto. Que isso por breve instante me deixará perto de você.

E que isso um dia, pode me levar a saída que tanto busco.
Porque prefiro não mais me ater a você e experimentar bocas diversas que me ajudarão a não lembrar da tua.
Essa boca que não te pertencia me mostrou o que eu não queria: que ainda me mantenho na esperança de provar do teu gosto.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Antes de dormir

Essa noite eu parei, reparei e percebi quem sou antes de dormir.
Encosto a cabeça no travesseiro baixo e macio que me acompanha há anos.
Logo me volto ao céu pedindo ao Pai que te proteja e, torcendo pra que um dia você escute a nossa conversa do começo ao fim.
Até porque no meio dela desejo-te ferozmente.

Só não te peço de presente porque não podes pertencer a mim.
Então encerro a minha prece, fecho meus olhos e num suspiro volto a pensar imediatamente em você.


Onde será que estás agora?
Oh, meu amor, minha cama clama a tua presença e meu coração berra, esperneia, saltita e me chateia de tanto te querer. E não tem hora.
O que será que estás fazendo?
Oh, meu anjo, minha mente não mente. Ela é direta: suplica por um crime, pede que eu te roube.

O que será que estás pensando?
Oh, minha vida, minha estrela, meu azul do céu, minha aurora querida, nem Casimiro de Abreu te ama como eu!

Ainda te espero antes de dormir.

Vem, aproveita que eu ainda não comecei a sonhar.
Vem, vem logo!
Chegue de pressa para que eu possa te ter antes de dormir.
Para que eu possa te amar de verdade.
Seja por uma noite ou pela vida inteira.