sábado, 16 de abril de 2011

O ridículo

Tenho um dom.
Um dom diferente dos normais.
Não sou um fenômeno na guitarra como Jimi Hendrix.
Não sou tão inteligente como Freud, Estein ou Tales de Mileto.
Queria eu poder ter tanto talento e tanta intligência sobrando.
Certamente olharia o mundo com outros olhos.
Teria outras atitudes. Amaria de outra forma. Abraçaria de outra.
Beijaria de outra. Cantaria de outra...
Meu dom é fútil. É incompetente. Parece por vezes que é intransferível ou imortal.
Nunca me livro dele.
Procuro respostas:
Como se colocar em primeiro lugar e os outros em segundo plano?
Como não sofrer por quem gosta?
Quem de verdade é sincero comigo?
O que faço para sempre pensar antes de falar?
Já tive inúmeras respostas, acreditem.
Já usei algumas, descartei outras. Continuo procurando novas soluções.
Sei que vai demorar até eu encontrar os encaixes. Se é que um dia vou encontrá-los.
Neste momento eu preferia não existir. Isso tudo é muito chato.
Peter Pan fez bem. A Terra do Nunca era talvez onde eu deveria estar agora.
Nunca errar. Nunca me decepcionar. Nunca exigir tanto de mim. Nunca se preocupar.
Nunca tanta coisa.
Tenho plena certeza que a Terra do Nunca é o lugar perfeito.
Eu tenho um dom. E esse dom faz de mim imperfeita.
Esse dom faz de mim humana. Esse dom faz de mim ser quem eu sou:
defeitos que transbordam, qualidades que exaltam o meu caráter e a minha personalidade.
Por mais que minha importância não seja notada por todos como dos amigos Hendrix, Freud, Eistein e Tales, eu sei que sou importante. Importante para a risada daquele que me machuca e acha graça. Importante para o gol de placa daquele que só me tem ao lado por interesse. Importante para quem se julga menor que eu ou diz me admirar. Importante pra quem tem inveja, afinal, sou bem vista pra isso.
Meu dom é ser quem sou. Única, singular e campeã da batalha diária de sobrevivência.
O meu dom é o ridículo.

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