quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Confissões de um poeta

Não vou negar que sinto a sua falta.
Não. Não vou negar que me sinto como um pirata frustrado, que acabou de perder o tesouro que descobriu.
Mas sobrevivo como tantos outros. Como você. Sem mim. Enfim. É fim pra mim.
Não foste o que eu esperava. Foste justamente o que eu imaginava, algo que repudiava.
Foste indo, assim como me veio sorrindo.
Mas foste sem dor. Foste apenas com mágoas que hoje se anulam facilmente.
Por mais que tenha perdido uma riqueza, meu lado pirata aventureiro se encarrega de novas rotas.
De novos mares e tempestades.
De novos tesouros.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A mais bela das gotas

Chove no dia
Chove na tarde
Chove na noite
As nuvens choram em forma de gotas
O barulho é intenso
Vai diminuindo
O barulho é agradável
De todas as gotas, eis a mais natural
Eis a mais fascinante
A mais simplória
A mais inimiga
Companheira das tardes de verão
De alguns dias do insosso outono
Amiga do peito do inverno
A transparente e líquida forma exuberante
Diamante cristalino
Poderosa bem-feitora do arco-íris junto a luz do sol
Poderosa mal-feitora quando cai estúpida e grosseira varrendo e inundando o que é visível
Amiga protetora causadora de sorrisos
Dos que cultivam as sementes
Dos que cultivam a terra
Cheirosa quando espalha a maresia e molha a terra quente
Estrela de Hollywood
Linda dádiva da mãe natureza
A mais bela entre todas as gotas

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Rascunho da madrugada

No começo de tudo eu achei que era só pele. Fogo de palha. O tal do alguém pra esquecer o outro alguém. Esse era o começo. Poderia ter ficado no início. Mas, como toda boa história, tem um desenvolvimento e um final. O desenrolar foi ótimo. Não, nem tanto. E eu achando que era só pele...
Aos poucos eu estava me rendendo. Você me conquistando, me abraçando com um dicionário de infinitas e lindas palavras. Eu o abri e li. Li todos os verbetes, os adjetivos, os sinônimos, mas eu esqueci dos antônimos. Onde você os colocou? Por que só apareceram agora?
E eu achando que era só pele. Você inofensivamente, raras vezes de forma agressiva, me ganhou. Com a facilidade que uma criança ganha uma bala. E eu, no lugar de criança, estendi a mão, aceitei a bala, sorri e te idolatrei. E eu, no lugar de criança, quis outra bala. Você me deu. Aceitei, sorri e te idolatrei mais uma vez. Só que dessa vez meu sorriso era interno. Vinha aqui de dentro. De onde vem as forças pra eu escrever. De onde vem os motivos de eu pensar em você.
E eu achando que era só fogo de palha. E a palha pegou fogo. E a palha virou resto. E os pedaços, as migalhas cinzentas se transformaram em agonia. Na mesma que eu sinto há alguns dias, na mesma que eu sinto agora. Porque não fui eu que queimei, porque eu não pude salvar. Porque pensando bem, eu não devia nem ter tentado inúmeras vezes, de diversas formas apagar.
E eu achando que era só pele.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Enquanto a chuva não me abandona

Já era quase noite. Um sábado com cara de fim de mundo, nuvens carregadas, acinzentadas, quase que inteiramente negras.
Estava apenas na companhia do meu computador e da brisa gelada que batia no meu rosto vinda da janela.

A janela do meu quarto, ou sala, ou cozinha, ou banheiro, parecia maior do que a casa. Era um caos, tudo se confundia. Era muito pequeno, muito bagunçado. Digno de um homem solteiro, desleixado e relaxado.
Mas eu não era assim. Eu estava assim. O motivo eu não sei bem, ou sei lá, até sei.
Estava incumbido de escrever. Não para alguém. Era para mim mesmo.
Vivo disso, escrevo um monte e vejo se alguém quer esse monte. E quando ninguém aceita, eu espero que venham me dizer o que escrever para eu ganhar a vida.
Deixei a casa uma zona como forma de me inspirar. Esse ambiente repugnante e asqueroso talvez me desse uma ideia. O fato é que a ideia não vinha e eu não aguentava mais a bagunça.

Quando levantei da cadeira decido a arrumar tudo, vi um clarão imenso pela janela e em seguida um barulho estrondoso. Era o maior trovejo que eu já tinha ouvido em 32 anos. Foi só o tempo de o meu coração acelerar com o susto, e a luz acabou.
Não foi a luz da minha casa ou do bairro, foi a luz da pequena e pacata cidadezinha do interior que eu me enfiei para ter sossego.
Do alto daquele morro repleto de mato, não se via mais nada. A chuva chegou com imensa força. Fui, no meio daquela bagunça generalizada, tateando tudo para tentar encontrar meu celular. Depois de muita dificuldade o encontrei, mas foi uma tentativa falha. Não havia um ponto de sinal sequer. Eu estava totalmente incomunicável. Decidi então procurar velas.
Estava bem perto da cozinha e com a luz fraca do visor do celular conseguia enxergar, ainda que com pouca nitidez.
Achei uma vela, uma única que parecia já ter sido usada, talvez não por muito tempo. Seu pavio estava preto.

Agora minha missão era encontrar fogo, já estava no local certo, bastava achar a caixa de fósforos.
A encontrei em cima do balde de lixo. Fui caminhando até o quarto para acender a vela.
Sentei na cama, abri a caixa de fósforo e me deparei com um enorme problema. Só havia dois fósforos.
Ao acendê-la  um vento forte bateu pela janela e apagou o fogo. Só me restava um fósforo. Fui para o banheiro e acendi a vela tranquilamente. A levei para a sala e fiquei durante alguns minutos andando pela casa tentando achar um jeito de fazer com que meu celular funcionasse. De nada adiantou.

Sentei no chão, encostado na porta que dava da sala pro quarto. A chuva, além de não parar, ficava mais grossa e intensa a cada minuto e caía sobre a janela fazendo barulho.
Fiquei pensando o que fazer e não cheguei a nenhuma conclusão. Sem vizinhos relativamente perto, sem luz, sem formas de comunicação. Eu estava isolado.
Para passar o tempo, peguei o celular que estava ao meu lado e decidi que ia então gravar algo que saísse da minha cabeça, já que eu não tinha o computador para escrever, eu tinha como produzir algo e transcrever depois. Apertei o botão pra gravar. Foram-se 2 minutos e eu só abri a boca pra bocejar. A chuva era torrencial. Uma das mais insanas que eu já vi. Exclui aquela gravação de dois minutos mudos.
Dobrei minhas pernas, debrucei meus braços sobre meus joelhos e encostei parte da minha testa no meu antebraço. Fechei os olhos e pus-me a pensar rapidamente no que fazer, no que dizer, no que pensar.

Abri os olhos bruscamente e apertei mais uma vez o botão pra gravar. E foram essas as palavras mais belas que meu eu-lírico já pronunciou:

Enquanto a chuva não me abandona eu tento continuar sendo eu, ou pelo menos sendo o mesmo eu que finjo ser. Ser por ser, ser sem saber, ser talvez sem crer que se é. Mas é. Eu quis dizer que é, ou que há. Há sim! Há uma chuva tão perto e tão distante de mim. Me sinto molhado, ensopado. Não das gotas que caem do céu, mas do suor que exalo por desespero. Definitivamente sou como a atual situação-problema: uma bagunça generalizada, uma pessoa sem luz e pavorosamente grosseira como esses trovões. Sem contar a surdez que insisto em manter. Agora só ouço o barulho dos pingos grossos que caem escorrendo pela janela, e dos infinitos trovões. Literalmente eu só ouço a mim, a mim que nem sei quem sou. Um desastre e ao mesmo tempo um sonhador. Um sonhador que busca palavras pra construir sonhos. Enquanto aquela chuva não se vai, não posso sonhar. Mas é possível que eu já esteja sonhando agora. Com palavras vibrantes que só são ouvidas pela bagunça da minha casa e a tempestade lá de fora. Claro, e o celular. Objeto que substitui meu ritual de papel e caneta ou computador e ideia.
Que tempestade! Que tempestade em copo d’água. Não sei como consigo ser idiota assim. Sobrevivo sem palavras. Mas não sobrevivo sem sonhos. Mas todos os meus sonhos são construções das minhas palavras. Então eu sou a palavra engasgada, que não vive amordaçada, que não sobrevive presa e impossibilitada. Então eu sou, desculpe repetir, um mundo alucinado de desejos envoltos de uma só palavra de duas sílabas e seis letras: sonhos.

No dia seguinte tudo voltou ao normal e o sol já estava saindo. Acordei com a claridade e me dei conta de que dormi no chão. Do meu lado direito apenas restos de uma vela que havia acabado. Do meu lado esquerdo o meu celular, sem bateria.
Levantei com dificuldade, o chão era duro demais. Fui até a janela com a cara amassada e um pássaro pousou na sacada. Doce e manso, não se importou com minha presença e se arriscou a piar, como se e desse bom dia.

O verde daqueles morros pareciam mais verdes e vivos do que nunca.
Joguei algumas roupas que estavam espalhadas na minha cama e sentei pra pensar no que havia acontecido. Pensei ter enchido a cara, mas não vi nenhum rastro de garrafa ou lata naquela zona. Levei as mãos ao rosto me esforçando pra lembrar o motivo de ter dormido no chão. Comecei a ligar as coisas: não tem luz, acordei do lado de uma vela... Faltou luz, o mato não está molhado somente do sereno, choveu também. Sim choveu!
Levantei, peguei o celular... O olhei fixamente: essa merda tinha que ser tão corrupta de bateria assim? Não serve pra mais nada...

Fui em direção a janela com o objetivo de jogá-lo longe. Para minha surpresa o pássaro ainda estava lá, como se me esperasse, ou se esperasse que eu fosse fazer aquilo.
Ficamos nos encarando. Ele pousou na mão onde estava o meu celular e em seguida voou para uma árvore ao lado. Quando olhei, ele estava no ninho com seu filhote e sua fêmea.
Talvez ele estava construindo o sonho dele. E possivelmente se eu jogasse meu telefone longe, eu estaria destruindo o meu.

Olhei pro meu celular e voltei o olhar para o pássaro.
Suspirei: Sonhos. Você não desistiu do seu por causa de uma tempestade. Por que é que eu tenho que desistir do meu por... por... nada?
Dei meia volta e fui arrumar a minha bagunça externa e interna.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Temporário

Tempo lento, sem vento
Tempo frio, morno
Temporário, simplório
Sem horário, sem vida
Tempo morto, tempo torto
Tempo vago, tempo amargo

Temporário, como um armário
Sem lugar específico
Sem dono, sem sono
Sem descanso, sem amor

Ignorado, ignorante
Sempre errado, sempre errante
Tempo longo, tempo tonto
Tempo vesgo, inconstante

Temporário, temporário
Armário, guarda-coisas
Arbitrário, vagaroso
Vegetal, silencioso

Sem cor, sem dor
Com amor, com flor
Com começo, com fim
Com medo, com segredo
Tempo pássaro, tempo voador
Temporário e sem valor

sábado, 29 de outubro de 2011

Feedback

Pra você, meu amor, pra você eu dou a minha dor.
Embrulho em uma grande caixa toda essa bobagem que é a nossa relação, e ainda faço um laço com a cor que você mais gosta.
Pra você, meu amor, eu sou capaz de dar até o ódio que sinto por não me compreender.
Não faço mais questão de nada, nem de você.
Nem das suas palavras, belas ou não, nem do seu coração.
Porque, meu amor, o cansaço é inevitável.
E ouça, ouça sim. Vou falar baixinho ao pé do seu ouvido, ou posso gritar
para que o mundo se torne uma prova da minha imensa agonia.

"Instintamente o estantâneo inesperado nasceu.
Calado meu coração absorveu. Colheu. Sorriu.
Palavras falei sem me preocupar com o que ia pensar.
Achei, por um minuto achei que eu fosse chegar em algum lugar.
Vamos combinar, quanto tempo perdido inutilmente.
Instintamente o estantâneo foi se transformando em uma vela acesa.
E foi, bem aos poucos, queimando, queimando, queimando...
Como a cera que escorre pelo corpo da vela em chamas, minhas lágrimas
não puderam se conter.
Meu amor, meu grande amor, eu chorei por você.
Imediatamente eu pensei em apagar a vela. Só pensei.
Nada pude fazer. Era seu destino queimar e acabar sozinha.
Sem minha intervenção, sem qualquer intervenção.
E foi assim."

O tempo pode não ser o melhor remédio, mas é eficaz, é curador.
Nunca vou deixar de sofrer, porque nunca vou deixar de amar.
Intuitivamente eu sigo na direção que eu mesma traço, sem pensar em nada.
Porque a caixa, a grande e linda caixa de presentes tinha eu como conteúdo.
De você, meu amor, não guardo rancor.
Não guardo sequer nenhuma lembrança ruim.
Mas também não quero as boas.
Porque me apegar a qualquer laço afetivo que me submeta a lembrar de você,
significa nocautear a minha razão.
Eu preciso, pelo menos uma vez na vida ser fiel com ela.
De você, meu amor, de você eu só quero apenas uma coisa.
Uma única palavra, simples, rápida. Uma respostinha, breve, doce ou amarga.
Que faça ou desfaça toda essa farsa.
Que mude ou cale esse desespero.
Que mexa ou paralise a disposição das coisas.
Que abraçe ou abandone, de uma vez por todas a vida que com você, não vai ser possível ter.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Acaso

Eu não tinha pretensão nenhuma de te encontrar.  Muito menos acreditava em simples acasos. Sabe? Aquelas coisas que dizem que são do destino. A vida vive me pregando peças e por vezes eu acabo sendo protagonista. Mas os coadjuvantes sempre se vão, e substancialmente de forma a me fazer elevá-los ao grau de protagonistas. Eu não sei muito bem onde eu quero chegar dizendo isso, nem se quero ir pra algum lugar. Até quero, me acompanha? Mas não pode ser um simples acaso decorrente do destino.
Eu estendo a minha mão, você a segura e a gente vai. Simples. Um passeio no bosque da felicidade, nas nuvens do amor, no oceano de olhares e gestos carinhosos, no universo das palavras exatas e na profunda imensidão dos clichês, porque sim, eu faço questão deles. Não por cafonice, mas por defesa.
Quando estiver de mãos dadas comigo, certifique-se de que seus dedos estão entrelaçados nos meus, pois só assim vai conseguir entender o quanto estou ligada a você.
Te dou a chance de irmos ao cinema. De cabeças coladas, certifique-se de que estou de olhos abertos, pois só assim vai ter plena certeza de que o meu sonho e os meus pensamentos estão vivos, acordados. São reais.
Quando formos jantar, tenha plena certeza de que meus olhos estão vidrados na sua beleza e na sua pele. Pouco me importa prato principal e sobremesa. Meu corpo exala desejo pelo seu nitidamente.
Na hora do amor, preste bem atenção no arrepio da minha pele. Assim, fica fácil notar que seu toque e seu calor são delirantes, apaixonantes. E seus beijos, e seus olhares e sua malícia.
Estendo minha mão novamente e te peço um abraço. Agora note como meu coração bate descompassado quando está perto do seu. Isso não pode ser pura obra destino.
Não bata aquela porta depois de ter segurado minha mão com nossos dedos envolvidos, depois de ter visto que não era sonho e que o que eu desejo realmente se resume a você. Não fecha a porta que eu abri junto contigo. Ou será que não foi a mesma porta? Ou será que foi um simples acaso?
Eu não queria ficar no lugar comum de casual, eventual ou aleatório. Você aceitou a condição de mãos unidas e, corações e corpos interligados. O acaso é chulo e sem valor. É um momento e ponto final.
Você, até que o acaso não se torne inteiramente uma realidade e me seja fatal, é leve e desejada reticência...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Platônico

Sem querer. Sem arder. Sem ganhar ou perder.
Com uma única certeza, mas com muitas dúvidas.
Dia após dia se renovando. Crescendo. Surpreendendo.
É o ideal. É prazer insensato. Anormal.
Arrebatador, encantador e molestador. Inteiramente abusivo e abusado.
Não, não é flor que se cheire. Mas se cheira.
Sublime. Suprime. Surpresa.
Olhou, gostou, flertou.
É cego e capenga. Não vive, sobrevive.
Acontece, amadurece, enaltece, entristece.
Viaja e volta. Já volta querendo viajar de novo. E viaja de novo.
É estúpido e esmagador. Audacioso.
Metido, vestido de amargo.
Amargo com gosto de doce no começo.
Inocente e ingênuo como o diabo no inferno.
Irresistível, saboroso e insistente.
Brilhoso, reluzente.
Veneno aparentemente sem antídoto.
Belo mesmo sendo a pior imagem da feiura.
É dolorido. Levanta sem nunca ter caído.
É mais inimigo do que amigo.
É inexistente, inoperante, incansável.
Incontrolável, inviolável e majestade na arte de ser absoluto enquanto dura.
Pode durar pouco. Pode durar muito.
Mas dura o tempo necessário para se tornar vergonhoso.
Não cai no esquecimento, mas também não traz alento.
É platônico de natureza, mas atônito de realidade.

domingo, 11 de setembro de 2011

Um mito

Eu queria ser fundamental na vida de alguém. Eu queria ser alguém pra alguém.
O motivo de um sorriso, mesmo que aquele bobo sem nenhuma razão aparente.
Queria fazer alguma diferença, levar alegria, bem-estar, conforto.
Ser o ombro amigo, os lábios quentes, o corpo repleto de amor.
A palavra que precipita o suicídio, a mão que levanta da queda, o abraço de aconchego, o olhar significante.
O toque de carinho, a flor sem espinho, a coragem contra o medo, um simples segredo.
O perfume que aromatiza o caminho, o olhar que eterniza o momento, o ouvido que ouve sem pressa, a água que sacia a sede, a surpresa boa, o inesperado, um sonho.
O tempo pra recordar, a vestimenta do tamanho certo, o conto de fadas real.
A companhia interessante, a voz doce, suave e delicada.
Alguém especial, incondicional e essencial.
Queria ser sua emoção pra discordar da sua razão.
Por fim, ser um misto do que te agrada pra me tornar imortal na sua vida.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Em busca do arrependimento

Vivo procurando o que não me procura, buscando o que não me espera, e mesmo sabendo disso continuo esperando que venha me procurar, que venha me buscar.
Passo o dia inquieta, inquieta a ponto de só sossegar quando me arrepender. E me arrependo. Sempre.
Cada atitude impensada, gestos e palavras ditas que podiam ficar só no: - E se eu fizesse, demonstrasse, falasse isso...
Mas logo depois vem: - Por que não fazer, demonstrar, falar isso... ?
Já me arrependi. Já fiz. E você... bem, você não me procura, você não me busca, você não quer, não, não me quer.
Eu perdi minha cabeça, perdi a razão. Fui dominada pela emoção, pelo impulso e pela aparente esperança que tenho.
Antes fosse só isso que eu tenho. Tenho tanto que não cabe em mim, não cabe aqui.
Pela milésima vez vou ter que jogar esse tanto fora. Não faço as escolhas certas.
Miro sempre no alvo errado. Atiro. Lanço a fecha. Tudo volta pra mim, da pior forma possível.
Admito que deve me faltar inteligência. Mas como ser inteligente?
Deixar de ser intensa, expansiva, amor à flor da pele? Não sei se eu consigo.
Não sei ser metade de absolutamente nada.
Mas se eu pudesse, eu faria metade de você viver pra me esperar, me procurar e finalmente me buscar.
Só tenho um coração, mas não sou egoísta: ele é inteiramente seu.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Desapego

Eram 2 horas da manhã. Vagando pela cidade deserta, me sentia um fantasma perdido, sem direção, sem alma, sem qualquer rumo.
Diante do deserto, uma surpresa: um único bar aberto, com umas 5 pessoas dentro.
Não precisei pensar muito. Pra lá que eu fui.
Chegando, notei que o nível de animação não era o dos melhores e mais contagiantes.
Não sei se qualquer outra pessoa que se encontrasse na minha situação, permaneceria naquele ambiente, que no minimo levaria a divagações, pensamentos distantes ou até mesmo, quem sabe, conclusivos.
Ali, qualquer coisa de ruim que estivesse sendo sentida, seria exposta. Mas... o que esperar encontrar em um bar aberto 2 horas da manhã com 5 pessoas?
Sentei. Sentei distante de todos. De onde estava podia ver a rua, um pouco do céu, cada ser que lá estava e o balcão repleto de bebidas.
Estiquei o braço bruscamente acenando para o garçom que estava perto.
Pedi um conhaque, puro.
Ao pedir, peguei o garçom de surpresa. Ele ficou alguns segundos olhando meu rosto, diria até que estava esperando que eu dissesse: - "Desculpe, falei conhaque, puro?! Foi engano."
Sou uma mulher, sou sensível de natureza e conhaque está fora de cogitação: - "Traz um chazinho mesmo!"
Mal sabia ele que se eu pensasse em pedir um chazinho, no mínimo seria um bem psicodélico para me levar pra bem distante dali.
Olha, não sou nenhuma usuária de psicodélicos nem nada do tipo, mas naquele momento não me faria muito mal.
Por fim ele trouxe meu "afoga mágoas."
Mágoas, que mágoas? Eu falei mágoas?
Não sei o que se passa aqui dentro de mim. É um misto, algo como uma salada de decepção, frustração, dor, agonia, nostalgia.
Não sei. Virei aquele copo, mas foi tão subtamente que os 5 homens sentiram uma ponta de inveja do meu poder boêmio.
Bati o copo na mesa, acenei para o garçom mais uma vez.
Pedi um whisky. Precisava diferenciar. Qual é a graça de viver na igualdade, de beijar as mesmas bocas,  sofrer pelas mesmas coisas e pessoas, e beber a mesma bebida a noite toda?
Virei o whisky também e decidi fumar um cigarro. Pedi outra dose de whisky e acendi meu cigarro. Meu erro foi esse, ter acendido o bendito cigarro. Calmamente comecei a pensar nas coisas, pensei na tal igualdade, nos tais beijos, nas mesmas pessoas, e ai começou: beijo... pessoa, beijo... pessoa... ê saco!
Um relacionamento mal terminado, uma história complicada, desavenças, desencontros, enganos, infidelidade e eu disperdiçando todo amor que eu podia dar para alguém...
Minha cabeça começou a girar, fui tomada por uma coisa muito estranha.

- Garçom, uma dose dupla de desapego, com gelo por favor.
Todos no bar me olharam, o que não é grande coisa, porque todos, neste caso, eram 5 homens bêbados e obcecados por algum fantasma da vida.
 - Garçom, uma dose dupla de desapego, com gelo por favor! - E nada.
Será que esse maldito infeliz não está me ouvindo? Será que eu grito? Jogo meu cigarro pra cima? Tiro a roupa?
 - Garçom, uma dose...
- Acho melhor a senhora se retirar. Não está falando coisa com coisa, não aparenta estar bem. Não vou mais te servir por ordens do meu patrão.
- Quem você e o seu patrão pensa que são? Chame outro garçom, eu tenho dinheiro. Melhor, chame o seu patrão. Não saio daqui.
Como eu poderia imaginar que o patrão era simplesmente o diabo em pessoa?
O satanás que me perseguia há tanto tempo, em pensamento e sonho.
Ali estava ele, vivo, super presente na minha frente. O infeliz causador de tanto descontentamento e infelicidade.
Aquele que acabou com a minha vida. Aquele que jogou ao vento tudo que eu tinha pra dar a alguém.
Não dei chances. Deixei o dinheiro na mesa e saí pela porta com meu copo na mão.
Ele estava vazio.
Percebi então, naquele momento, que de fato não bebi conhaque ou whisky.
Bebi desapego. E por ter bebido, tive coragem o suficiente para ter abandonado quem tanto me machucou.
Atirei o copo na calçada. E continuei andando.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Arte de te desejar

Eu não entendo. Não entendo essa necessidade de ter que de algum jeito estar perto de você. Às vezes é meio agoniante, como se fossemos dois ímãs querendo se atrair e nada de magnetismo. Não entendo a Física.
Não entendo a Química também. Tem algo diferente entre nós. Uma fórmula anormal, uma cadeia cíclica, sei lá.
Nem a Matemática, que parece óbvia, eu entendo.
1 + 1 é igual a 2, certo? Certo.
Eu + Você é igual a... ? Não entendo.
Não quero nem entrar no detalhe de também não compreender o Português. Não há palavras capazes de me explicar o que está acontecendo.
Não tenho pra onde correr, não sei o que faço.
Sinto necessidade de você... não sei porquê. Você sabe?
Ando pensando no dia que vamos nos encontrar - se é que ele vai chegar... - na roupa que eu vou usar, como vai me olhar. No tamanho da minha timidez e da vermelhidão que certamente vai estar na minha bochecha.
Minhas mãos já começaram a suar.
Mas sei lá. Não sei mais o que digo, penso ou sinto.
É estranho. Esquisito. Meio doido. Mas é bom, é, é bom. Gostoso, por mais confuso que pareça.
Que bem que você me faz.
Acho que a matéria que melhor me clareia as ideias é Artes.
Você é como uma bela obra de arte que eu não canso de admirar.
É um objeto aurático: aquele cultuado, cercado de mistério, magia, mito, que transcende qualquer mera expectativa. Não basta te olhar pra te entender. Tem que entrar em você, te conhecer, te desvendar.
É alucinante! Mas é tão apaixonante...
Suas palavras soam como música. Eu vicio.
Por vezes penso que pode ser um personagem fictício criado pela minha mente cineasta. Mas não, acho que não. Você existe. Existe pra mim.
É vida pra guardar na minha vida.
É esperança que não morre.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A melhor parte de mim

É bom olhar pra trás e perceber que tudo valeu a pena. Melhor, que tudo continua valendo a pena.
Reencontrar amigos antigos, pessoas que levam vidas diferentes da sua, mas iguais ao mesmo tempo: falta de tempo, estresse, responsabilidades, problemas...

Mas quando uma rodinha se abre, um aparece com uma cerveja na mão e diz: - lembra daquela vez que a gente... - tudo parece ter sentido.
Talvez eu esteja indo longe demais. Exagerei. Tudo não, mas uma coisa faz sentido: felicidade.
Você começa a perceber o que é ser feliz, como era feliz e como é fácil continuar sendo.
Não precisamos de muito, nem pouco. Precisamos do ideal. O ideal é esse: ter amigos, de longa ou curta data, não importa, goste da intensidade, cultive a qualidade; ter histórias pra contar e recordar com ou sem cerveja; poder abraçar sem medo, sem desconfiança; poder sorrir sem pudor; poder ser feliz pelo fato de existir, respirar, de ter ao lado pessoas imensamente especiais.

Jogue seu passado para o presente e faça com que isso impulsione o seu futuro.
Dizem por aí que amigos são a família que podemos escolher. Amigos são vínculos, laços que criamos porque queremos, porque nos é essencial.
Você, meu amigo de 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15 anos de amizade e histórias, sinta-se lisonjeado não por me ter como amiga, mas por ter uma amizade tão duradoura e tão linda que resistiu a todo e qualquer obstáculo.
Você, meu amigo de dias, semanas, meses, amigo recente, sinta-se lisonjeado também. Nossa amizade pode bater records. Queira isso. Faça isso.
Você, meu amigo que ainda não é amigo, sinta-se lisonjeado como os outros. Ainda podemos ser grande parceiros!
Deixo aqui o meu muito obrigada a todos vocês, por fazerem parte da minha vida, da minha história, por me proporcionarem tantos momentos agradáveis, tantas risadas fora de hora e tantas recordações belíssimas.
Adoro coisas clichês, sou clichê, então vou ficar no clichê: dia do amigo não é somente dia 20 de Julho. É todo dia, toda hora.
Feliz dia do amigo a todos vocês, meus putos safados! Vocês não valem um centavo furado, assim como eu, mas mesmo assim amo vocês!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Reciclagem

Não. Definitivamente esse final não era o planejado por mim. Tão pouco desejado. Mas aconteceu.
E fim. Fim de planos, pensamentos, sonhos, palavras, gestos. Fim ultradoloroso de sentimento.
Dei adeus ao amor para das boas vindas a dor, ao sofrimento, ao silêncio do meu quarto e ao imenso vazio que parecer surgir.
Pareceu, apenas pareceu.
É impressionante como certas coisas acontecem no tempo certo. Clichê, né? Mas é verdade.
Tudo, absolutamente tudo tem prazo de validade. O que existia entre nós venceu, passou do prazo, excedeu o limite.
Obviamente foi para o lixo. Desperdício? Sei lá.
Não sei se eu não soube aproveitar, ou você que se enganou comigo: seu produto - a primeira vista sem selo ou etiqueta indicando se é do seu tamanho, se cabe em você; sem nota indicando a possibilidade de troca; sem código indicando data de validade.
Mas... acho que sua ida ao oftalmologista, e o uso de óculos fez com que você enxergasse onde estava a data.
Não faz mal. Eu, desde o princípio, já sabia que teria fim. Só não sabia o quanto me faria mal. Mas passou.
Estou de volta às prateleiras com uma nova data de validade, em um local diferente para que o próximo consumidor não tenha a mãnha de te perguntar onde a encontrou.
Mas uma coisa é certa: "tudo mudou". Sim, tudo, e com áspas porque eu as quero aqui.
Entenda como quiser, enxergue como quiser. De óculos ou sem.
Seu prazo também acabou.
Mas o meu... ah, o meu é renovável.
E outra, não sou descartável.

sábado, 16 de julho de 2011

Não, não é amor

Deu uma vontade louca de te escrever.
Não, não vou falar de amor. Leia isso como se fosse um bilhetinho. Não, um bilhetinho não, uma carta talvez. Isso... uma carta, mas uma carta diferente. Sem remetente, destinatário, envelope, selo e todas essas baboseiras.
Ao ponto: Não tiro você da cabeça. É... não consigo. Posso conseguir, eu sei. Talvez eu não queira, mas é tão bom pensar em você que funciona como um relaxante: ameniza toda e qualquer dor, decepcção, frustração e sentimentos ruins. Não, não estou te usando.
Você me traz devaneios. Me faz viajar, percorro todos esses quilômetros que nos separa quando lembro do teu sorriso.
Adoro conversar com você. Adoro seu jeito de ser, seu egocentrismo, sua marra, e novamente o seu belo sorriso que me faz viajar.
Não, não me entenda mal, se é que é mal... não é amor, paixonite, essas coisas.
É prazer de ter e não ter você ao mesmo tempo. Talvez tesão.
Tudo que é difícil e desafiador me proporciona horas de pensamento e imaginação. É isso que me move.
Você é incrível. Merece meus singelos aplausos.
Que situação fantástica... estou tão presa nela. Você me faz tão bem, parece até uma exceção à regra.
Acho que quero te roubar pra mim. Não pra vida toda, é só por um instante. Só pra te ter nos meus braços, ver o seu sorriso de perto e te beijar. Beijar incansavelmente.
Não, não é amor. É puro carinho.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um anjo

Quando tudo parecia perdido eu vi um anjo, como quem vê uma luz no fim do túnel.
Ele me chamava pra perto. Que poder de atração.
Eu fui sem ao menos pensar duas vezes.
Ele me disse: - Vim porque te vi sofrer. Não gostei. Vim porque te observo. Olhe pra você... agora olhe pra mim. Me dá a sua mão. Toque em minhas asas. Sente o gosto da liberdade?
Então liberte-se disso que te faz mal. Seja feliz. Posso ver suas asas. Posso ver você voar. Só falta você enxergar.
Em um passo de mágica o anjo sumiu. Fiquei ali parada tentando entender a situação e tentando procurá-lo.
Nada... nada de vê-lo outra vez, nada de raciocinar.
Até que novamente ele apareceu e sussurrou em meu ouvido: - Vou aparecer pra você toda vez que estiver sofrendo, mas quero curar isso, você não é a única que sofre, portanto não é a única que precisa da minha ajuda. Mas saiba que eu te amo, não se sinta sozinha. Bata as suas asas.
Dessa vez eu pude sentir o tamanho da energia daquela divindade.
Bati minhas asas. Sorri. Virei as costas e andei, andei, andei... fui ser feliz.
Esperar pra quê? Gosto do imediatismo. E por gostar, segui a vida.
Ela, senhores, a vida, nos ensina tanto... nos tira pessoas, mas coloca outras.
Nos faz cair, mas também nos faz levantar.
Nos traz a dor, mas também nos traz o amor e a alegria.
Bata suas asas. Seja feliz. Liberte-se. Permita-se.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Escolhas

Constantemente me deparo com escolhas.
Constantemente sofro por conta disso.
Aquele caminho é o que teoricamente pode te fazer feliz, mas é o que também vai te fazer sofrer. Na verdade já está fazendo. Nada é fácil.
Então você decide seguir pra outro lado. Um sem rumo certo, aparentemente sem buracos, aquele que pode te proporcionar mais oportunidades... mas não é esse o que te faz feliz.
Como escolher então?
Não sei. Eu não sei.
Definitivamente não sou a pessoa certa pra falar de escolhas. Talvez não seja a pessoa certa pra falar de nada.
A vida me mostra que A+B = AB, mas eu insisto em enxergar C.
Sou cega? Falta de óculos? Ou será burrice mesmo?
Sei o que é melhor pra mim, mas tenho medo.
Sei que preciso desistir daquilo que me faz mal, mas não quero. Já me fez bem um dia, pode continuar fazendo, eu arrumo um jeito! (enquanto isso vou me afundando, afundando, afundan... afun... af...)
Estou à beira do abismo: indecisa, inconstante, irritavelmente frágil e infeliz.
Queria me jogar e terminar com esse discurso sem fundamentos.
Não é a melhor decisão. Ou é?
Quero que isso acabe, quero só ter o poder de fazer as escolhas que me levem com mais facilidade e tranquilidade ao caminho da felicidade.
Não quero deixar de tropeçar ou de sofrer, isso faz parte.
Só queria ser como o vagalume, no momento da escuridão ele acende a sua própria luz e guia seu próprio caminho.

domingo, 19 de junho de 2011

Uma simples flor, ou apenas o amor

Não preciso de muito para ser feliz. Nem para ter momentos felizes. Nem para sorrir.
Se você me perguntar o que me faz bem, eu vou dizer que é basicamente tudo aquilo que você me dá envolto de amor e carinho.
Não quero palácios e castelos, um mar de dinheiro, luxo, glamour. Isso tudo nos traz uma falsa impressão de felicidade.
Quero pouco, quero o simples. Sabe?
Sou daquelas que se desmancha não por um buquê de flores, mas por uma florzinha, uma rosa, uma margarida, um girassol, que seja. Sou daquelas que fica com cara de boba ao ler um cartãozinho no presente, um cartãozinho inesperado na mochila. Gosto das demonstrações, do afeto mútuo.
Preciso disso para sobreviver. Sou quente, quente como o sol e como o vapor de um vulcão.
Frieza me congela, me desanima, me murcha.
Gosto daquilo que podemos chamar de recíproco. Eu te dou e você me dá de volta, não porque eu quero que seja assim, mas porque você quer que seja assim. Entende?
Quer me matar? Seja indiferente, me trate com repulsa, mas só faça isso se tiver plena certeza que meu coração bate por você de forma descompassada, porque senão, não vou sentir sua rejeição.
Minha relação com o amor não é das melhores e mais fantásticas. Sou sempre o extremo superior, e por sê-lo, quando tombo a recuperação é lenta, lenta, lenta.
E o que eu faço? Bem, me recupero, mas só depois de pensar inúmeras vezes que me reerguer será impossível. Normal?
Não peço muito, não quero tudo, não sou tudo.
Sou como uma flor: delicada, valiosa, posso ser o motivo de alegria, posso ser o motivo de tristeza por poder possuir espinhos, mas preciso ser regada. Seja meu regador, aquele que me molha de carinho e de atenção, e que me bajula por eu ser quem eu sou, apenas uma simples flor, ou apenas o amor.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Impossível

Oi.
Tenho um ímã para o errado.
Só atraio amores impossíveis.
O pior é que eu me jogo. Não estou nem aí.
Meu coração é forte, ele aguenta.
Mais masoquista que ele, apenas eu.
Quero saber até onde vou, onde esse caminho vai dar. De repente existe mesmo um pote de ouro por trás do arco-íris.
Na verdade eu preciso parar de pensar em você e acreditar que vai dar tudo certo.
Meu ímã é para o errado, somente para o errado. Não tem motivo pra dar certo.
Mas é difícil.
Pra onde olho te vejo. Quando durmo te desejo. Quando acordo lembro de você. Durante o dia tento esquecer, mas isso significa pensar mais e mais.
É um beco sem saída, acredite. Já tentei sair. Não tem porta, janela nem buraco.
É um pouco agoniante.
O pior de tudo é o coração discordar da cabeça. Teimosia sem limites.
Eu só preciso que seja verdadeiro. Mais que isso: real e recíproco.
Dessa vez meu destino poderia estar pregando uma peça e o final ser feliz.

domingo, 29 de maio de 2011

Eu te amo tanto...

Tomar decisões é difícil, principalmente quando é contra a sua vontade.
Mas, mais difícil que isso é acertar na escolha.
Seu coração quer X, mas teoricamente o melhor para você é Y.
É de uma dor tamanha que palavras jamais sequer explicariam.
Um querer continuo, longínquo, amargurado, inesperado.
Como saber se o seu coração está certo? Como saber que o melhor pra você é realmente o Y?
Tentando. Só que essas tentativas sempre geram consequências. Delas eu só queria as melhores.
Pelo menos as que eu julgo como sendo as melhores.
Amar não é fácil, não é nem um pouco legal. Sempre sofremos. Sempre esperamos demais dos outros.
Nada nunca é o bastante.
Mas, sinceramente o que me bastaria seria você. Seria todo o amor que você pudesse me dar.
Nem que migalhas, restos sofridos. Eu posso transformar isso em um mar. No atlântico, no pacífico. Você pode escolher.
Seria você ficar na minha vida de forma a não disperdiçar um grão de amor que eu tenho pra te dar.
São tantos grãos, incontáveis. Estou oferecendo absolutamente todos eles pra você.
Aceita? Me aceita?
Por que ser tão difícil?
Eu te amo tanto...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sintomas de amor

Acho que estou com sintomas de amor.
Espero o celular tocar, você me procurar.
Sorrio bestificadamente com suas palavras.
Quando durmo espero asnsiosamente o seu boa noite e ao acordar
fico na expectativa do bom dia. Sempre te incluo nos meus planos.
Desentedimentos fazem parte.
Sofro. Perco a fome, o sono. Choro.
Se as coisas mudam, eu sinto. Eu percebo teu tom, teu semblante e como
bate o seu coração apenas com as suas palavras.
Não quero ser mais um alguém na sua vida.
Eu quero ser diferente e por isso fazer a diferença.
Quero poder, junto com você, enxergar novos caminhos e experimentar novas sensações.
Quero dar o máximo de mim em amor, compreensão e companheirismo.
Quero ser pra você quem você nunca imaginou que fosse ter. Alguém que vai te marcar, como uma tatuagem.
Não sei explicar o que é isso nem qual é o seu tamanho, mas olha, é grande. É espaçoso, e até mesmo ousado.
Só sei que eu te quero do meu lado por tempo indeterminado, talvez pela vida toda. Talvez além dela.
Estou começando a acreditar que é amor. Esse cretino é assim mesmo, turbulento.
Esses sintomas são um misto de tantas coisas. Aliás, isto são sintomas?
Não estou doente. Estou?
Não me diga que sim. Não me diga que não. Não responde. Eu sei a resposta.
É por saber dela que estou neste desabafo claustrofóbico. A cada respirira-inspira, uma lágrima cai.
Ao vê-la cair tenho mais certeza do que está acontecendo. Mas confesso que gostaria de estar confusa.
Pouparia um monte de murros em ponta de faca.
O que eu posso fazer além de pensar é apenas deixar, que o vento me leve pra direção que achar conveniente.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Meu eu

Suponho que te entender seja uma questão de tempo.
Mas me entender levaria uma vida inteira.
Sou atos inconsequentes, ideias fixas e descoloridas.
Na verdade eu sou o tudo e o nada se misturando a cada milésimo de segundo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A cobra e o gato

Já imaginou criar uma cobra achando que é um gato manhoso e companheiro?
Às vezes nossa visão nos engana e não há óculos que conserte.
Pior é achar que está sendo arranhado, um arranhão de carinho, quando na verdade foi picado.
Sente o veneno percorrendo por dentro?
Não... você é insensível a tudo que possa vir a ser o que pra você nunca será.
Cobra é cobra, gato é gato.
Quem é você? Acho que o veneno cegou. Calou. Imobilizou.
Está inerte. Está morrendo aos poucos.
Esfregue os olhos, se movimente. Rápido!
Pode não se salvar, mas pelo menos alerte quem está ao seu redor.
O gato pode virar cobra. Mas a cobra não vira um gato.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Esfriou

Esfriou. Ficou frio. Bem gelado. Parece que está tudo morto.
Que clima, que nada. Morreu. Acabou.
O fogo se apagou. Agora é tudo neve. Tudo iceberg.
Duro. Difícil. Um pouco assustador.
Em outro ponto de vista, decepcionante.
Quem está acostumado com verão não quer inverno fora de época.
O verão é mais agradável. É calor a todo instante. Intensidade, êxtase. Um fenômeno inenarrável.
É aquela chama que você não deseja que se apague. Melhor, aquela que você sabe que tempestade ou nevasca alguma vai apagar.
O inverno também é agradável quando sabemos que o verão ainda mora interiormente em nós.
O que é tátil pode ser congelante, o nosso exterior sequer vai sentir. O calor de dentro é mais soberano.
Além disso, está envolto em toda e qualquer parte do corpo.
Mas, quando desprevinidos o inverno domina, significa que a estação mudou.
E muda independente da nossa vontade. Muda porque tem que mudar. Muda porque assim é a vida.
Esfriou. Ficou frio. Bem gelado. Parece que está tudo morto.
Que clima, que nada. Morreu. Acabou.
Como tudo que nasce, um dia morre.

sábado, 14 de maio de 2011

Dois pólos

Não tem jeito, um sempre é mais e o outro sempre é menos.
Como o negativo e o positivo.
Como uma mão, uma perna, uma orelha são maiores que as outras.
Não teriam de ser iguais? Não. Nada é perfeito.
Existe sempre um 8 e um 80 para tudo.
O amor não fica para trás.
Um sempre se preocupa mais, se doa mais, cuida mais.
Um sempre sofre mais, tenta mais, corre atrás.
Um sempre ama mais.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O amor

O amor é uma dor
uma flor
um pecado
um sonhador
um machado

Machuca, destrói, incomoda
facilita, constrói, possibilita
Não é a felicidade
é o viver

É o te ver
te sentir
te desejar, tocar, satisfazer
É o bem e o mal

O amor é uma dor
uma flor
um pecado
um sonhador
um machado

É insegurança
desconfiança
doação, coração, frustração

É o que começa em mim
e termina em você
É o que me prejudica por te querer

Mas é o que me dá prazer
prazer de viver
de sorrir
Até de morrer

Não há morte que
se julgue melhor do que
a de amores por você.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Segredo

Vou contar um segredo...
Às vezes me dói essa falta de ligação.
É como se estivesse acima do peso e o botão da minha calça preferida não conseguisse ficar centímetros perto do buraco que o abotoa. Frustrante.
É tão prazeroso sentir esse vulcão de sentimentos bons, que, quando resolve entrar em erupção e cuspir os ruins tudo perde o sentido.
Por que diabos gostar tanto? Quero saber o que eu ganho com isso.
Olha eu aqui perdendo tempo falando de amor.
Podia estar lendo, ouvindo os clássicos no rádio, vendo filmes dignos de estatuetas no cinema.
Mas estou aqui, escrevendo e pensando em você. E digo mais, se eu estivesse lendo as maravilhas Shakespeare,
ouvindo Vinícius de Moraes ou apreciando qualquer obra de Woody Allen, eu continuaria pensando em você.
Isso é horrível. Lastimável. Lamentável. Horroroso.
Mas é tão gostoso. Amo gostar. Amo pensar, mesmo que sofrendo um bocadinho.
Mesmo que não sendo correspondida. Mesmo que tudo seja mero fruto da minha imaginação.
Sonhar ainda não custa nada. Os nossos sonhos são só nossos, invendáveis e superiores a qualquer outro capricho da vida.
Talvez seja por isso que de noite eu já sei que você terá o papel de personagem principal nos meus sonhos.
Talvez porque você seja o meu próprio sonho.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sinônimos

O que não entendo é como alguém pode não se apaixonar pela Lua, pelo Sol.
Existe mais linda e brilhante moça na noite?
Ela é como todas as mulheres, quantas fases! Todas incríveis.
Que donzela formosa, arranca suspiros de amor, sorrisos. É inteiramente romântica.
É encantada. É poderosa.
O que dizer do belo rapaz que aguça esquenta a nossa pele?
Ele é o rei. Ele é adorável. Também intocável.
É único. Não podemos vê-lo a olho nú. Seu poder simplório nos torna tão menores e singelos.
Um óculos resolve. Ah, agora sim! Agora podemos admirar. Agora podemos sentir.
São duas dádivas.
Mas vão embora. Uma vai e outra fica. Uma fica e a outra vai.
Mas eles sempre voltam.
Amar não é muito diferente disso.
O que é amar? O que é amor? O que é paixão?
Amar é simplesmente ter a Lua ao seus pés.
Amor é finalmente acreditar que ela está inteira pra você.
Paixão é o Sol. É o calor e o fogo intenso. É poderoso.
É adorável.
Mas isso tudo acaba? Não.
O amor e a paixão nunca deixam de existir. Nunca acabam.
São renováveis. São justos. Quantas oportunidades nos dão.
Eles sempre voltam.
Mas sempre confundimos as coisas.
- Nunca mais vou amar alguém!
Quer dizer então que nunca mais a Lua vai ser sua?
- Não vou mais me apaixonar, só me decepciono.
Quer dizer então que o Sol nunca mais será seu?
Não é porque o dia está nublado que as rosas deixam de nascer, as ondas de ir e vir e o sol de aparecer.
Uma tempestade não destrói o arco-íris, ela o motiva.
O frio não é a ausência de calor, é a necessidade de tê-lo para seu corpo se aquecer.
Esta é a mesma necessidade de ter a Lua e o Sol por perto.
Quem vive sem amor? Quem vive sem paixão?
Ninguém.
Todo mundo espera a Lua aparecer no começo da noite e o Sol no começo da manhã.
Ame, se apaixone, se jogue.
Pecado é não aproveitar o que de mais precioso a gente pode ter por medo de perder.
O mundo gira. As coisas voltam pro lugar.
E se não voltar, coloque-as em lugares diferentes.
O Sol e a Lua nunca ficam no mesmo lugar.

terça-feira, 26 de abril de 2011

O espelho

Ele fazia de tudo para evitar aquele encontro, mas toda vez que passava em sua direção, um ímã o atraía e o lavava para perto de quem ele mais temia. Então, preso a esta situação, dava meia volta e parava à sua frente. Era inevitável passar um segundo sem ao menos olhá-lo.

Ele era grande, revestido de prata com pequenas pedras de esmeralda misturadas a brilhantes. Simplesmente encantador aos olhos de qualquer sujeito. Charmoso, elegante e despojado, era mais do que lógico que se apaixonar por ele seria uma questão de pouquíssimo tempo. Como vítima deste paradigma, Gil ficou obcecado com tanto charme.
Bastou um simples olhar discreto e fixo de aproximadamente cinco segundos, para já se sentir atraído e caminhar em sua direção. Há quem não acredite que um espelho obtivesse este dom. Há quem diga que Gil era louco, até mesmo egocêntrico por se apaixonar por um espelho, onde a única coisa que podia fazer era mostrar sua própria face, seu próprio corpo.

Qualquer palavra era inabalável a esta relação. Dia após dia, o rapaz arrogante, rude, irônico, sarcástico e misterioso, transformava-se em um novo indivíduo. Mas ele não aceitava que um mísero espelho somente por ser dotado de tanta beleza, pudesse transformá-lo. Apesar de tanto amor, passou a tentar evitar o encontro. Era um magnetismo impressionante, uma atração indescritível. Gil não aguentou e novamente promoveu um encontro entre ambos. Desta vez era diferente, o rapaz foi disposto a dar um ponto final na relação.

Duas quadras antes de sua casa, havia uma loja de antiquarias, objetos de décadas e séculos passados, relíquias que estavam à venda. Foi ali onde tudo se firmou. Era ali onde vivia o espelho encantador. Gil decidiu ir à loja vê-lo novamente. Acabou por comprá-lo e o levou para casa. Em seu quarto espaçoso, arejado e aconchegante foi o lugar cativo do seu inseparável amor. Colocou o espelho ao lado de sua cama, próximo a uma estante repleta de livros, onde havia uma mesa com uma cadeira para os seus estudos. Foi ali então que Gil passou a maior parte do seu tempo decidindo se ficava, ou se livrava daquele gostoso tormento. Pensou durante horas, durante dias e quanto mais pensava, mais enlouquecia.

Numa manhã ensolarada, Gil suava em seu quarto de tanto calor, precisava sair de casa, mas não conseguia. O encanto do seu espelho o prendia.
Sentou-se na frente dele e o indagou:
- Por que faz isso comigo? Olha minha camisa repleta de suor, me prende aqui a troco do quê? - Disse intrigado.
Desesperado, levou as mãos à cabeça.
- Não consigo me livrar de você, podia ser menos encantador e me abandonar de algum jeito, creio que não morreria sem sua companhia... responda-me desgraçado!

Em um ato de impulso, Gil levantou-se da cadeira e a jogou na parede. Com revolta e aos gritos derrubou uma dezena de livros da sua estante, tirou sua camisa, rasgou e a jogando no espelho.
Andava rapidamente de um lado para o outro no quarto.
Cansou-se e se deitou em sua cama. Pôs-se a derramar um mar lágrimas.
- Por que eu não consigo ser quem eu aparento? Jovem, interessante, inteligente, elegante... estou um caco por dentro. Amargurado, acabado. Quanta mágoa. Isso tudo me destrói. - Pensou repleto de tristeza.

Gil ficou por horas chorando deitado na cama sem nem trocar de posição.
Não olhava mais para o espelho. Não abria mais os olhos. Adormeceu.
Despertou ainda inquieto e nervoso com a situação. Em passos curtos percorreu os cantos do quarto durante minutos.


Pegou uma folha e uma caneta e brevemente escreveu:

“Este espelho é como eu: aparenta ser o que na verdade não é. Por fora parece ter conteúdo, mas por dentro é vazio. Estou me livrando dele como primeiro passo pra me livrar do que tenho por dentro. Posso afirmar que exteriormente estou no auge dos meus 28 anos, mas interiormente sou um velho acabado, inexperiente e subordinado a minha própria aparência.
Portanto, vou jogá-lo fora e me livrar de qualquer esteriótipo que eu mesmo ou a sociedade me impôs“.

Gil esmurrou o vidro do espelho três vezes consecutivas. O vidro não mais era perfeito. Não mais permitia que ele visse seu próprio reflexo.
Com as mãos sangrando ele levou o espelho para uma rua deserta e o colocou deitado no chão com o papel em cima.
A cicatriz daqueles murros permaneceu nas mãos do jovem rapaz por muitos anos. Aquilo era sua motivação diária para se lembrar que podia ser muito mais do que ele aparentava e imaginava ser.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O que realmente vale a pena

Uma lágrima escorreu. Caiu no chão em forma de coração. Olhei.
Você apareceu na minha frente. Antes que outra lágrima caísse você a secou. Nossos lábios se tocaram.
Nossos corpos suados molharam o chão. Aquela lágrima se misturou às nossas gotas. Nunca mais chorei.
Você me fez perceber que o amor vale a pena.

Expectativas

Esperei muito tempo você chegar já sabendo que você ia partir.
Mesmo assim fiz tudo errado. Criei expectativas de mudar o final. Falhei.
Você se foi e eu fiquei.
E o que eu aprendi? Acho que nada.
Continuo tendo expectativa, mas uma única: viver tempo o suficiente pra conseguir aprender que não posso esperar nada de ninguém.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A felicidade não existe

Naquele dia eu revirei tudo que tinha guardado no baú.
No concreto encontrei aquelas cartas de amor.
No abstrato, apenas dor.
Não há paz se não tenho você por perto.
Meu relógio parou desde aquele dia quando às 20h você foi embora.
E o que sobrou? Pedaços. Momentos. Canções.
Ainda sentia seu doce perfume pairando no ar. Bastava fechar os olhos e respirar.
Quero me livrar dessas recordações. Elas não me fazem bem.
Lenha, lareira, fogo. Estou queimando tudo.
O baú, o caminhão de lixo levou. Mas ainda tinha restos, migalhas espalhadas em mim.
Vendo as lembranças virarem cinzas, o fogo refletia nos meus olhos como nos olhos vermelhos do monstro das trevas.
Como eu ia me livrar do baú que ainda existia em mim?
Um pedaço de papel em chamas pulou. Enquanto as chamas diminuiam, eu me aproximava.
A única palavra escrita: Pule.
Aquele pedacinho estava ao lado da janela.
Do oitavo andar eu ia me jogar.
Subi. Senti o vento da liberdade bater no meu rosto. Aquele era o sinal e a oportunidade de me livrar do baú interno.
Pulei.
Acordei.
Ao lado da minha cama, um bilhete: "Voltei para buscar as minhas coisas. Não tenho palavras para agradecer os momentos felizes que me proporcionou."
Naquele dia eu descobri que a felicidade não exsite.

sábado, 16 de abril de 2011

O ridículo

Tenho um dom.
Um dom diferente dos normais.
Não sou um fenômeno na guitarra como Jimi Hendrix.
Não sou tão inteligente como Freud, Estein ou Tales de Mileto.
Queria eu poder ter tanto talento e tanta intligência sobrando.
Certamente olharia o mundo com outros olhos.
Teria outras atitudes. Amaria de outra forma. Abraçaria de outra.
Beijaria de outra. Cantaria de outra...
Meu dom é fútil. É incompetente. Parece por vezes que é intransferível ou imortal.
Nunca me livro dele.
Procuro respostas:
Como se colocar em primeiro lugar e os outros em segundo plano?
Como não sofrer por quem gosta?
Quem de verdade é sincero comigo?
O que faço para sempre pensar antes de falar?
Já tive inúmeras respostas, acreditem.
Já usei algumas, descartei outras. Continuo procurando novas soluções.
Sei que vai demorar até eu encontrar os encaixes. Se é que um dia vou encontrá-los.
Neste momento eu preferia não existir. Isso tudo é muito chato.
Peter Pan fez bem. A Terra do Nunca era talvez onde eu deveria estar agora.
Nunca errar. Nunca me decepcionar. Nunca exigir tanto de mim. Nunca se preocupar.
Nunca tanta coisa.
Tenho plena certeza que a Terra do Nunca é o lugar perfeito.
Eu tenho um dom. E esse dom faz de mim imperfeita.
Esse dom faz de mim humana. Esse dom faz de mim ser quem eu sou:
defeitos que transbordam, qualidades que exaltam o meu caráter e a minha personalidade.
Por mais que minha importância não seja notada por todos como dos amigos Hendrix, Freud, Eistein e Tales, eu sei que sou importante. Importante para a risada daquele que me machuca e acha graça. Importante para o gol de placa daquele que só me tem ao lado por interesse. Importante para quem se julga menor que eu ou diz me admirar. Importante pra quem tem inveja, afinal, sou bem vista pra isso.
Meu dom é ser quem sou. Única, singular e campeã da batalha diária de sobrevivência.
O meu dom é o ridículo.

domingo, 10 de abril de 2011

O tempo

Ver-te passar
era o desejo mais profundo e verdadeiro
do meu coração


Ver-te ir
me guiando em busca de novos horizontes
de novas sensações, de novos ares
Ver-te mudar, inovar, passar
levando-me a lugares e sonhos
Tudo diferente


Entro em epifania
em transe contínua
no momento, um paradoxo


A inércia me domina
não quero ver-te ir
vais levar o que me faz sentir
prazer em viver todas as manhãs


A felicidade de estar junto das minhas maçãs
verdes, ainda a amadurecer
em processo de crescimento
e mudança de cor


Não leves de mim todo esse amor
que tenho destes pequenos preciosos frutos
os quero perto, todos os dias
vai me dar a garantia
de um sorriso


Não quero ver-te ir
não fujas de mim
me ouves?
ou fujas, lentamente
para que a dor que eu sinta
se faça pequena

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Prosopopéia

Por vezes imagino como um objeto seria se tivesse sentimentos.
O que será que os descartáveis pensariam quando descobrissem que sua vida útil era pequena e que a 'paixão' por eles era só puro interesse?
O que sentiria o computador, celular, a chave de casa, o carro quando descobrissem que eram amados apenas por sua funcionalidade, mas que seus respectivos donos viveriam plenamente sem eles?
Tudo bem, salvo exceções. O que tem de gente materialista por aí... Acredito que alguns objetos se sentiriam amados infinitamente. Esses não se importariam com o fato do tamanho amor estar diretamente ligado ao interesse. Afinal, o que é o interesse perto do amor?
Estou me sentindo um objeto. Cada dia um objeto diferente. Um dia descartável, outro dia reciclável (e esse é o que mais está durando, obviamente), outro dia um de vida útil pequeníssima e num outro, um sem qualquer valor que só existe por existir. Talvez de enfeite.
Acho que o problema está em mim. Trato os outros como gostaria de ser tratada e inconscientemente espero ser tratada da mesma forma. A famosa expectativa.
Pode ser também o fato de eu sempre colocar o próximo em primeiro lugar, primeiro eles e depois eu. Bondade demais ou ingênuidade demais? Que seja... Sempre fui assim.
Preciso ser egoísta. Preciso me amar mais.
Sou a personificação de um objeto com sentimentos que não se dá o próprio valor.
Espera aí, não, eu não sou um objeto. Quem tentou me converncer disso?
Quem está pensando aí: "você mesma se convenceu disso" - Errou.
Estou falando como você me vê, você já me aceitou assim. É mais convincente, mais vantajoso e mais interessante. Não?
Não sou um objeto de vidro que ao se quebrar possa te machucar.
Não sou um objeto 'perfeito' como o Titanic pretendia ser. Ele afundou.
Não sou um celular para servir de ponte de comunicação, muito menos um computador para atender as mais diversas necessidades do que chamamos de mundo moderno.
Sou mortal. De carne e osso. De músculos, de cérebro, de coração. De coração, ora bolas. Ele bate, ele sente.
Mas para você, assim como para a literatura, sou uma simples prosopopéia.

domingo, 3 de abril de 2011

Ainda me falta você

Pensei, pensei, pensei e por horas fiquei ali pensando. Amanheceu. Pensei.
Dormi pensando, sonhei pensando, acordei pensando. Ilusão de tua parte achar que não estou sóbrio ou que estou louco. Dizem por vossos bares que quem ama é insano, loucura acreditar que seja verdade, mas pensei. Dedicava meu tempo inteiramente a sua figura.
No chão, tentava reorgazinar todos aqueles singelos pedaços de papel e aos poucos novamente ia se formando seu belo rosto. Pensei.
Aquele ouro de teus compridos e brilhantes cabelos me iluminava. Podia ver o céu em teu olhar e até mesmo um mar de palavras prontas a sair pela sua delicada boca. Pensei. Podia viajar no teu corpo, fechar os olhos e imaginar teu gosto. Tão doce que eras. Tão amarga ficaste.
Pensei. Aqueles pedaços de papel amassados, dobrados, pisoteados, sujos me faziam amargurar. De tudo podia ver, sentir e lembrar. Somente seu coração não podia tocar. Pensei.
Outrora lembrei-me de esquecer. Pensei. Ali se foi mais uma noite, mais um dia, mais uma, duas, três garrafas curadoras. Render-me seria pôr em cacos todo aquele pequeno e amargurado pulsador que existia em mim. Pensei.
Durante anos esperei resposta, esperei presença, esperei tocar o que a mim era o intocável.
Esperei demais. Aquele que idolatrava e sonhava cuidar para tê-lo somente a minha disposição já não batia mais. Aquela, senhores, aquela que eu sempre amei me deixou e partiu. Partiu sem que eu pudesse ao menos expressar a que velocidade aquilo que eu chamava de amor crescia. Pensei. Foi-se uma vida embora pensando numa outra que havia deixado de viver. Enfrentei o cansaço de longas noites sem dormir, de logos anos sem de casa sair e do fim da minha vida para reencontrá-la. Não mais penso, não mais falo, sequer existo. Mas por você eu ainda espero.

sábado, 2 de abril de 2011

De quem é a sua felicidade?

Pela janela eu avistava a janela dela.
Ela tão meiga e inocente pensava que era feliz.
Ele tão Homem e tão sagaz, achava que suas mentiras eram maiores do que as de qualquer um - Nunca seriam descobertas.
Pela brecha da minha janela eu via tudo isso acontecer em segundos. Meus olhos não me enganavam.
O macho alfa, garanhão e príncipe encantado era na verdade um patético homenzinho que cismava em ter seu 'h' maiúsculo. Quanta bobagem.
Ela passou por idiota tantas vezes. Tantas que se bobear até posso fazer contas para melhor dizer.
Não, não quero. Vai parecer que sou fofoqueira. Na verdade sou?
Um dia desses ouvi sua janela bater tão forte que achei que naquele momento não tinha mais nenhum vidro.
Pela brecha da minha janela vi que sombras se movimentavam de forma rápida, num fluxo de gestos assustador.
Momentos depois o vejo descendo pela escada que dava para a casa dela.
Virei meu olhar para a janela dela.
Lá estava ela, com uma única lágrima de sangue.
Ela percebeu que eu a olhava. Já era quase madrugada. A rua deserta.
Ouvi: - Eu fui idiota por alguém que não me merecia. Você viu?
Eu: - Via todo dia.
Ela: - Por que nunca me contou?
Eu: - Acho que não me ouviria, sou apenas sua vizinha.
Ela: Eu estava cega.
Eu: E agora já tem óculos. Não coloque sua felicidade nas mãos de qualquer um.
Ela: De quem é a sua felicidade?
Eu: Minha.


Depois daquele dia ela nunca mais abriu a janela.